O retorno do Demônio - Crítica da série do Demolidor
Em 1977 a Marvel lançou uma série chamada ''What If'' (no Brasil, ''O Que Aconteceria Se...''). A premissa era assaz interessante: colocar heróis e vilões em situações inimagináveis. Era reescrever o universo Marvel sem interferir na cronologia oficial. Nessa série tivemos exploradas as possibilidades do Dr. Destino virar herói, do Wolverine encontrar Conan, dos Vingadores nunca terem existido e por aí vai.
Isso fez com que nós, fãs de plantão, imaginássemos várias histórias e possibilidades. Viajávamos em discussões, teorias e teses que quase sempre acabavam em risadas. Ou em porrada.
Pois proponho agora outro desafio: E se o universo cinematográfico da DC, conhecido por ser soturno, sinistro, de cores fechadas, contido, violento e denso, fizesse um filme (ou série) com a estética Marvel, que é colorida, solar, cheia de piadinhas e cenas de ação? Seria interessante, né?! Um filme dos Super Amigos, ou um do fanfarronissímo Batman de Adam West... fica a vontade (e a expectativa) aí no ar.
''Mas Iuri, por que você não propõe o inverso também?'' Simples, amigo fuscante! Porque a Marvel já o fez! Sim, me refiro à espetacular série do Demolidor!
Ousada, a Casa das Idéias lançou de uma única vez os 13 episódios da primeira temporada no Netflix. A estratégia poderia ser um tiro no pé e afundar o projeto de séries da Marvel, caso a recepção não fosse boa e todo burburinho gerado não fosse justificado. Mas, pra nossa alegria, tudo deu muito mais que certo.
A série traz um realismo e uma crueza até então nunca vista numa produção da colorida Marvel. Cores fechadas, diálogos densos e excelentes personagens secundários, que pesam e trazem relevância a trama. Hell’s Kitchen, onde a série é ambientada, parece ter saído diretamente de um filme dos anos 70, te passando a impressão de ser perigosa, suja, corrupta e, principalmente, sem muita solução e perspectiva de melhora.
E é aí que entra o impecável trabalho de Vincent D’Onofrio como Wilson Fisk. O enorme ator impõe sua presença e te faz realmente temer o Rei do Crime. Aqui, Fisk não é necessariamente mal. Ele quer o bem de sua cidade, tirar dela o ranço e rastro de violência que a mesma carrega sendo que, pra isso, não mede esforços e nem meios pra que isso ocorra. Aí mora sua vilania.
E finalmente falemos de Charlie Cox, o homem que dá vida ao demônio que não tem medo. O ator está incrível. Age como um cego e luta como um cego. Nota-se, claramente, que houve um muito bem vindo distanciamento da figura do Homem Aranha (cabe aqui uma explicação: a meu ver, e ao de muitos, o Demolidor é uma versão do Homem Aranha, mas sem o senso de humor: sempre se balançando, pendurando e fazendo poses no ar). O Demolidor da série anda um pouco vacilante, se vale muito do barulho ambiente, tropeça e, apesar dos golpes precisos, nota-se uma fagulha de insegurança, exatamente como (imagino eu) um cego se comportaria.
Entre uma decapitação, fraturas expostas, sangue, belas cenas de luta, diálogos incríveis, história amarrada e um uniforme lindo (revelado no ultimo capítulo e sem o icônico DD estampado), o Demolidor entra pro primeiríssimo escalão dos heróis Marvel. Pelo menos aqueles que vemos nas telas.
P.S1: Stan Lee faz, pra variar, uma pequena participação na série. E aí? O encontrou?
P.S2: O ‘’DD’’ do uniforme também está presente, mas em outro local. E aí? O encontrou?
Iuri Salvador é desenhista, comediante, músico, nerd, pai e garoto batuta
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